“A demissão de dois grandes professores escritores do Direito nas instituições ‘rivais’ faz com que a gente reflita sobre os rumos do ensino jurídico.
Por que será que o professor ‘escritor’ incomoda tanto? Por que será que o professor que faz o aluno refletir sobre o Direito e suas mazelas é tão estigmatizado? Que Direito temos e que Direito queremos? Falar que é bom pro MEC? Falar que aprova no exame da OAB? Direito é isso?
Sinceramente, não concordo e não compactuo com isso.
Devemos primar pelo conhecimento e raciocínio crítico-reflexivo. Direito é muito mais do que o que está nos Códigos. Professor deve ser valorizado, ainda mais se produz, escreve, pesquisa, investe em titulação.
Universidade é ensino, pesquisa e extensão, gostemos ou não. Ser professor não é missionarismo, é profissão.
Enquanto o pensamento for o de apagar a luz do outro pra "minha" brilhar, teremos muito a perder coletivamente e nunca sairemos das trevas. A luz do desenvolvimento nunca se acenderá com esse pensamento.
Quanto mais brilhante um professor, mais iluminados serão os alunos, afinal, é uma tendência natural do discípulo superar o mestre.
Era só isso mesmo. Estou indignado. Vou voltar pra minha caverna.”
As justas palavras acima, dignas de aplausos, são do Professor Murilo Sapia Gutier. Não o conheço pessoalmente, mas tenho acompanho seu trabalho, sua dedicação enquanto professor, por meio de suas obras e postagens.
A educação, em qualquer nível, deveria ser voltada para a humanização dos educandos, pois, , em síntese, educar é promover a capacidade de interpretação dos diferentes contextos nos quais eles estão inseridos, bem como, qualificá-los para a atuar neste contexto de forma crítica. Educar é humanizar e isto é ajudar o individuo tomar consciência da realidade que o cerca.
Logo, o ato de educar não está para o treinamento e nem a ele se reduz. Nos cursos de direito, seu objetivo nunca deveria ser o índice de aprovação nos Exames de Ordem (da OAB), em concursos para juiz ou mesmo, considerando os parâmetros que estas são realizadas, avaliação do MEC. Isso não é educação, pois, além de esvaziar a potencialidade humana, incentiva o individualismo e a competição como valores de vida.
Infelizmente, a realidade da educação brasileira está se apartando, cada vez mais, desta premissa. A dispensa dos professores denunciada por Sapia, tem que ser compreendida dentro da mesquinharia e mediocridade encasteladas nas instituições de ensino de nosso país, com honrosas exceções. Essa mesquinharia e mediocridade decorrem da mercantilização do ensino, onde, por exemplo, o atendimento das necessidades, não do ser humano enquanto coletividade, mas do deus mercado e, nas instituição privadas, dos lucros de seus acionistas, ainda que escondidos por traz de instituições pilantrópicas.
Para combater essa realidade, há que se combater, portanto, não apenas os efeitos, demissão de professores que ajudam despertar nos estudantes a consciência do que é o mundo no qual vivemos e sua potencialidade enquanto sujeito social capaz de possibilitar mudanças, mas sim do modelo mercantilista que predomina da educação no país, lutando para combater a iniciativa privada deste importante setor para o desenvolvimento da sociedade humana.
Finalizo, fazendo um pedido para o professor Murilo: Não volte para caverna, há um mundo aqui fora para ser mudado.
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