São apenas dois dias, no momento que escrevo esse texto, do perecimento do meu Pai. Antes de continuar, peço desculpas a quem possa ter
se ofendido com a primeira mensagem que escrevi falando do ocaso da vida daquele
que, junto com minha mãe, deu-me vida. Naquela mensagem, escrita quando a aceitação
sequer era vislumbrada (começo a me aproximar desta fase), quando a dor fazia
seus primeiros estragos, grosseiramente chamei de “frivolidades imaginárias” as tentativas das pessoas de me confortar com mensagens e condolências de cunho
religioso. Não penso assim, foi um erro dizer o que eu disse. Não sou religioso, isso não é segredo para ninguém.
Mas, respeito, sempre respeitei o sentimento religioso das pessoas, o qual
permeou grande parte das mais de mil mensagens de pesares que recebi, tanto nas
redes sociais como no velório. Independente da religião, salvo aquelas loucuras
feitas por pessoas guiadas por líderes religiosos de índole duvidosas (como
fazer arminha, defender o ódio ou, desvirtuando ensinamentos, como se vê, por
exemplo, sendo feito por setores isolado o islamismo), o sentimento religioso,
algo da vida privada de cada um, vem junto com o sentimento de amor e é o amor, já disse um anarquista certa vez, não a vida, o contrário da morte.
Quero aproveitar agradecer às
pessoas que compareceram na cerimonia de despedida do meu pai. Minha esposa,
não agora na pandemia, pois estamos nos cuidando ao máximo, sempre me levou para velórios de nossos conhecidos ou de entes destes, quando de seus perecimentos.
Confesso, sempre fui, mas sem entender o papel que ali cumpria, pois, até então,
nunca havia perdido alguém tão próximo a mim. Em 37 anos de Uberaba, é a
primeira vez que um de nós e, coincidentemente, nosso patriarca, que era o
decano de nossa Casa (casa no sentido de família) se foi. Somente quem já sofreu essa
perda tem a real importância de cada presença num velório e, mais, ainda, no
sepultamento de um ente querido.
Agradeço, também, ao Padre Fabiano,
pároco da São Geraldo Magela, a Paróquia do Bairro Alfredo Freire, onde meu pai
sempre viveu (em Uberaba) e construiu nossa família, que esteve presente neste
triste momento de nossas vidas. Agradeço e destaco, o serviço de qualidade
prestados tanto pelos trabalhadores e como pelos proprietários da empresa Pagliaro, que além de me acolherem pessoalmente, através
de sua casa de velório (Domus Pagliaro), nos permitiu uma despedida mais
humana e menos sacrificante do meu Pai, não obstante a tristeza que nos tomava e toma. Agradeço,
por fim, aos trabalhadores do Cemitério Memorial Parque Uberaba, onde o corpo do
meu pai teve seu descanso. Mas, não apenas os trabalhadores são digno de elogio, pois toda a estrutura daquele "campo santo" confere tratamento digno aos que partiram e
aos que ficamos enlutados.
Continuo esse texto (me desculpem
o textão) dizendo aos que chegaram até aqui em sua leitura, que li todas as
mensagens de condolência, as mais de mil mensagens que recebi. Entre elas, havia
duas citando Carl Sagan, um cientista, físico, biólogo, astrônomo, astrofísico,
cosmólogo e escritor norte-americano já falecido, que muito prezo. Uma
das frases é a que abre este texto ("Somos como borboletas que voam por um dia e
acham que é para sempre") e a outra: “somos feitos de poeira de estrelas. Nós
somos uma maneira de o cosmos se autoconhecer."
Acho que Carl Sagan tem razão,
pois não temos a noção da nossa fragilidade e é por isso que morte de um ente
querido, que nos deixa sempre sem chão, tristes e amargurados, independente do nosso credo religioso, pois neste momento
tomamos, ainda que momentaneamente noção desta triste e avassaladora realidade. Além do mais, somos
todos feito de matéria orgânica que retorna a elementos químicos, comuns em todo o
universo, somo reduzidos a átomos e é por isso que somos poeira de estrelas, a forma
inicial da formação dos planetas e, por conseguinte, da vida, pois sem planetas não há vida.
É por isso que, seguindo os
conselhos que li e ouvi nos votos de condolências recebidos, que não estou negando e, tampouco,
tentando achar culpados pelo ocaso da vida de meu Pai. O que busco é o sentido do completo desconforto que vivo nestes dias e, nesta experiência visceral de racionalizá-lo, fazer dele o combustível para retomar minha caminhada.
Como disse num texto sucinto que
escrevi ontem, meu pai não foi enterrado, ele foi plantado, para que dele se
forme novos guerreiros, sendo que esses guerreiros somos nós seus filhos, netos e
bisnetos. Ele viverá enquanto vivermos, nosso amor por ele, permitirá isso. E como disse a mensagem de um outro
amigo, meu pai e eu (e meus irmão e ele) somos agora um só, decidiremos juntos,
caminharemos juntos, olharemos pelos mesmos olhos e ele sorrirá pelo meu
sorriso!
Por fim, agradeço a todos, em especial
pela ternura, cumplicidade, paciência e
parceria, ou seja, pelo amor de minha esposa Rita e de meu filho Jorge, ao amor
de minha Mãe Luzinete, à fraternidade de meus irmãos Soraia e Erick, à amizade
leal de meu cunhado-írmão Pedro, aos amor de meus sobrinhos Pedrinho, Micheli, Pablo, Yasmim e
Rafael (e a toda família do Rafael) ao companheirismo dos primos Clodoaldo, Graciele, Fernando, Glaice,
Cristina, Sandra e Rose, das Tias Lena, Ester e Divina, do Tio Zé e do Tio
Alfredo, à solidariedade de meus camaradas de Partido e companheiros de
movimento, aos meus colegas advogados e aos juízes que se lembraram de mim nestes
dias. Agradeço em especial ao Dr. Ismar, que
vem se desdobrando nestes duros dias e é claro à minha Secretária Sheila.
Agradeço a todos que estiveram e/ou estão comigo e minha família, ainda que em pensamento e em
suas orações.
Finalizo essa longa carta, parafraseando
mais uma das mensagens que recebi: A vida é apenas passageira, um empréstimo
rápido. Nos reencontraremos, um dia, todos em algum lugar, seja como espíritos,
almas ou como poeiras estelares...
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